O livro A morte é um dia que vale a pena viver, de Ana Cláudia Quintana Arantes, médica formada pela USP com residência em Geriatria e Gerontologia no Hospital das Clínicas da FMUSP, sócia fundadora da Associação Casa do Cuidar, Prática e Ensino em Cuidados Paliativos nos mostra que ela decidiu por esta área aos cinco anos de idade diante da impossibilidade de auxiliar sua avó que teve as duas pernas amputadas e, mesmo assim, escolheu viver a educando e criando para a vida. A realidade de sua escrita me arremeteu a inúmeras reflexões conscientes – outras inconscientes que irão se acomodar em mim ainda para um despertar oportuno – e compartilho algumas delas para que cresçamos em coletivo. A morte ensina a viver. Isto mesmo. DIANTE de sua iminência a vida passa a ter outro sentido e nossas escolhas se precipitam diferentes.
O que questiono é que podemos fazer estas mesmas escolhas sem que a “indesejada das gentes”, como escreveu Camões, nos visite. Assim, começar um novo projeto de trabalho e de vida, iniciar um novo curso, começar a nadar aos 50 e ser líder aos 30 só dependem de uma escolha pessoal e de minha força de vontade, o mais são desculpas. E outra: é preciso conversar sobre o envelhecer para que nos asseguremos de um futuro com melhor qualidade de vida e tanto começa no agora.
Não basta fiar-se em um sistema previdenciário que, no Brasil, não sabemos se nos pagará a contento. É imperioso que desenhemos um planejamento de longo prazo que nos traga prazer e tranquilidade de espírito, talvez até uma segunda profissão. E, quando isto começa? Hoje, sem mais adiamentos ou demoras uma vez que estaremos nos escolhendo em primeiro plano para que sejamos pessoas melhores de se conviver e de se viver com.
É mórbido pensar assim? PARA a sociedade brasileira construída midiaticamente sob os lastros do hedonismo sim, contudo, em um processo de maturidade e de amor próprio, é necessário que esta reflexão seja séria para que, no amanhã, as organizações convivam com anciãos que contribuem efetivamente e de modo feliz em seus postos de trabalho ao mesmo tempo em que a sociedade acolha pessoas que vão viver mais – segundo a própria medicina atesta – e vivendo mais terão uma existência mais plena porque fizeram suas escolhas de assim o ser nos áureos anos da juventude que hoje, literalmente, começa aos 45.
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