O filósofo coreano Byung-Chul Han em A sociedade do cansaço nos diz que vivemos em uma sociedade acelerada que exige sujeitos de desempenho. Nesta, duas forças pressionam o sujeito ao alto desempenho: a exigência externa, que exige e avalia a performance dos colaboradores nas empresas, e a exigência interna, enquanto construção da subjetividade de sujeitos que desejam performar. Nesse campo, o pensar, a reflexão e a contemplação, relegadas a atividades menores, de “desocupados” são subvalorizados, menosprezados quando não julgados como atitudes daqueles que não possuem senso de dono e não vestem a camisa da organização uma vez que perdem tempo divagando enquanto deveriam estar atuando e fazendo entregas realmente exigentes. Contudo, justamente o pensar, algo tipicamente humano, um caminho, portanto, para a desejada humanização fica em segundo plano, para ser otimista, deixando o homem à mercê das exigências corporativas que também se encontra em um dilema: atingir suas metas, com mais eficácia, em menos tempo, gastando menos budget. E quem seria responsável por todas estas concretizações? O homem multitarefa, o homem pressionado pelas urgências, o home desumanizado. E desumanizado este homem, desumanizam-se as relações, tornando o desafio de construir equipes um objetivo hercúleo em que os teambuildings são contratados para mitigar a pressão, construir e unir propósitos, desenhar papéis e estabelecer pontes de confiança para que estas sejam realocadas no dia a dia e se transformem em um elo do presente com o dia de sinergia. O esforço diário ainda é grande para que não se percam os vínculos reforçados e – alguns – construídos em oito horas de treinamento. Espera-se que a humanização-momento não se perca em meio aos muitos projetos e dilemas das áreas que compõem um organismo vivo chamado empresa.
Como escreveria Kátia Ribas: ‘o sujeito do desempenho se entrega à liberdade coercitiva ou à livre coerção de maximizar o desempenho. O excesso de trabalho e desempenho agudiza-se numa auto exploração. Essa é mais eficiente que uma exploração do outro, pois caminha de mãos dadas com o sentimento de liberdade. […] Os adoecimentos psíquicos da sociedade de desempenho são precisamente as manifestações patológicas dessa liberdade paradoxal.” (HAN, 2017, p. 29-30)’. É preciso, então, conciliar a liberdade do mundo atual, de escolha, de ir e vir, de ser, com os ambientes de trabalho: liberdade de se expressar sem ser perseguido ou rotulado pela ideia compartilhada, liberdade de escolher respostas alternativas para os desafios diários sem ser tolhido pelo medo do novo – que se deseja e se afugenta –, liberdade de se empoderar sem ser convidado a não se exceder em nome do status quo. Quem sabe assim, o homem retome sua natureza humanizada e saia da postura educada; mas servil, conciliadora; mas subserviente, empoderada; mas limitante. Quem dará o grito de liberdade? Talvez os números de doenças psicossomáticas da OMS sejam os porta-vozes desta transformação urgente.
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