top of page

Ego na liderança (Randhy di Stéfano)


O professor de música Clement acaba de arrumar emprego num internato na França pós-guerra e encontra jovens órfãos, rebeldes e até delinquentes, que o testam constantemente. O prof. Clement, baixinho, meio gordinho e careca, assim que chega para sua primeira aula, vê na lousa uma caricatura sua feita pelos alunos, exagerando seu nariz e sua cabeça careca. Neste internato, onde o diretor Rachin governava com mão de ferro, adotando o lema “para cada ação uma reação”, que era a sua maneira de justificar as punições constantes e violentas que impunha aos jovens, já se esperava que esta caricatura gerasse mais uma reação disciplinar. Surpreendentemente, Clement olha a sua caricatura e, ao invés de levar como ofensa pessoal, faz uma crítica construtiva ao estilo do desenho e sugere possíveis melhorias. Esta forma mais humana de lidar com os alunos vai aos poucos conquistando esses jovens rebeldes assustados, sempre prontos a revidar, a lutar contra o tal do “sistema”, acostumados à violência com a qual eram tratados. Infelizmente, o diretor Rachin não percebia que o seu lema “para cada ação uma reação” tinha se tornado mais do que isso, pois cada reação gerava uma contrarreação, mantendo um ciclo de violência. Ele via os jovens apenas como párias que não tinham mais conserto e sua única função era mantê-los na linha. O prof. Clement, por outro lado, enxergava em cada jovem um talento, uma possibilidade artística, uma expressão individual. O seu foco não era punir, mas gerar crescimento, ajudar cada um a se descobrir. Para isso, teve a paciência de lidar com cada teste, cada desafio, cada ofensa, sem ofender de volta. Mostrou na prática a ideia da planta que se dobra com a rajada do vento, mas não se quebra. Acabou conquistando o respeito e admiração de todos esses meninos rebeldes que, contra todas as expectativas, montaram um coral de canto estilo gregoriano. Vê-se nesta descrição a premissa do filme Les Choristes e mostra na prática dois estilos distintos de liderança. Um centralizador e autoritário, e o outro mais participativo, com foco em desenvolvimento e crescimento. O estilo autoritário e punitivo acaba gerando resistência e contrarreação da parte dos outros. Cria uma cultura de medo e de evasão, pois as pessoas sabem que a qualquer momento podem ser punidas. O líder que adota este estilo autoritário e punitivo, provavelmente vive no mundo da certeza, onde se apaixona por si mesmo e por suas opiniões. Ele acredita no próprio marketing e se deixa embriagar pelo poder da posição. Acaba se achando mais inteligente do que os outros e, o que é pior, mais importante também. Assim cheio de si, a chance é grande que alguém assim veja tudo como ofensa pessoal, perdendo o controle, facilmente, quando as coisas não são exatamente do jeito que quer.


O estilo desenvolvedor tem a grande capacidade de não se deixar levar por pré-julgamentos superficiais. Ele realmente se importa em fazer os outros crescerem e, para tanto, tem a importante capacidade de escutar e entender as necessidades dos outros. Mas, mais do que tudo, enxerga potencial nos liderados que, às vezes, nem eles perceberam. Ele reverte a rebeldia dos outros não através de mais punição, mas através de entendimento e de aliança. Nada desarma mais do que alguém que acredita na capacidade de melhoria de um outro alguém. Ele sabe que no começo pode encontrar resistência dos liderados, pois muitos ainda chegam traumatizados de experiências passadas com líderes antiquados, mas mantém em mente seu foco estratégico: conquistar a confiança do liderado para ajudá-lo a descobrir seu potencial e crescer como ser humano. Ele sabe que as ofensas ou resistências não são contra ele, são mais do que tudo, reações aos fantasmas internos que cada um carrega. Com este entendimento, o líder real consegue deixar o ego de lado, pois sabe que se um líder tem problemas de ego então não é um líder de verdade. Enquanto o líder autoritário reclama das rajadas de vento sopradas pelos liderados, o líder desenvolvedor usa este vento para brincar de voar. E você, como está o seu voo hoje? – provoca o coach Randhy, pois, hoje, para muitos, só o incômodo gera crescimento. Sim, podemos escolher melhor: mais leveza, mais paz, menos ego. Para tal conquista, autorreflexão e aceitação do que se uma vez que na aceitação reside o primeiro passo para a mudança que leva a voos mais altos e mais plenos.


bottom of page