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Resiliência Organizacional Já!


Há tempos venho acompanhando algumas empresas, estudando a chamada nova economia, pesquisando sobre os mais diversos impactos que a tecnologia vem impondo aos negócios e confesso que a única coisa a afirmar, sem medo de errar, é que estamos vivendo um momento muito rico e desafiador.

Enquanto uns preveem o caos, outros nos trazem esperança de um mundo muito melhor. Sempre foi assim, a grande diferença é que agora tudo isso está acontecendo simultaneamente. Estamos “vivendo o futuro”!

Ao mesmo tempo que temos o caos de fato instalado em diversos segmentos da sociedade e mercado, temos ilhas de avanços tecnológicos, colaboração e qualidade de vida espalhadas pelo planeta, e é isso que nos coloca no já mencionado momento desafiador. Podemos escolher o que enxergar, como viver e até com o que sonhar, dependendo dos exemplos que adotamos para nosso contexto. Mantenha o foco no negativo e tudo será mais difícil, busque o positivo e essa sintonia te trará melhores opções.

Para as pessoas, o desafio de deixar a conduta individualista e passar a pensar no coletivo, entendendo que nada nem ninguém é só bom ou só mau, mas que temos que valorizar, sempre, só o bem, é um caminho árduo, mas necessário para tudo de melhor que podemos alcançar. Um exemplo? Precisamos aceitar a tecnologia como parte do desenvolvimento humano, sem temê-la ou superdimensioná-la, afinal é algo inevitável e que pode nos levar à uma qualidade de vida nunca imaginada.

Não consigo precisar o quanto o comportamento das pessoas, enquanto indivíduos, afeta diretamente as empresas ou o quanto estas, a partir da nova realidade de mercado, moldam as ações e reações das pessoas, mas fato é que as empresas vêm tendo seu ciclo de vida cada vez mais reduzido e isso está mexendo com a cabeça das pessoas em toda sua estrutura.

Alguns simplesmente rejeitam novas ferramentas de gestão, rejeitam a tecnologia de ponta e até mesmo o entendimento de que tudo deve ser feito para atender ao mercado e não mais para satisfazer o próprio ego. Ainda são apegados aos seus “produtos e processos que sempre funcionaram muito bem”, mas que hoje não funcionam mais ou têm seus dias contados. Outros, acreditam que toda a solução é tecnológica. Que a automação resolverá tudo, que os aplicativos fazem milagres... Também não é assim!

Com tudo isso, fica fácil entender por que as crises se estabelecem nas empresas de forma tão corriqueira. Não me refiro as crises decorrente das questões externas, que afetam a todos da mesma forma, mas sim àquelas que surgem por questões internas, as quais em tese estão no círculo de controle da própria empresa.  

Neste sentido, tenho visto muito discurso e pouca efetividade, o que não é de todo ruim por que ao menos demonstra que há consciência de que as coisas devem mudar. Da conscientização para a ação adequada leva mesmo um tempo, pois envolve tentativas, erros e acertos, avanços e retrocessos. O que não pode haver é a falta de ação!

A questão agora é o tempo. Cada vez somos exigidos a sermos mais rápidos e assertivos em nossos processos de mudança e é aí que tropeçamos, é aí que as empresas sucumbem e é aí que posso colaborar compartilhando minha percepção do que deve ser feito para que as crises, se não forem evitadas, sejam superadas e levem as empresas à um novo patamar de desenvolvimento.

Entendendo que a Resiliência Organizacional é a capacidade que uma empresa tem de superar as crises, aprender com elas e ainda se fortalecer, minha primeira preocupação paira sobre as questões relacionadas a comunicação interna. Muitas empresas estabelecem vários canais de comunicação destinados a denúncias, sugestões, reclamações, mas não se certificam do quanto esses canais são de fato eficazes ou suficientes. Estruturam seus departamentos de forma celular, sem que um se conecte ao outro, não favorecem os relacionamentos interpessoais, não estimulam a capacidade que todos temos de colaborar com o todo. O que mais vejo são setores preocupados em atingir metas para, quando muito, receber algum bônus. Me entristece ainda vivenciar, com enorme frequência, o distanciamento entre as áreas de produção e administrativa dentro de uma mesma indústria. Você acredita que tem gente que trabalha em alguma área administrativa de uma fábrica e nunca foi ao galpão de produção por que não vê necessidade e ainda fala isso com um certo orgulho?

Outro ponto importante a ser desenvolvido em uma organização comprometida com sua longevidade é o estímulo à diversidade. Aceitá-la já é um avanço, mas estimulá-la faz toda a diferença, impactando desde os processos de recrutamento e seleção até os de treinamentos ofertados, critérios de promoção, contratação de terceiros e muito mais. Há estudos que mostram que as empresas que têm em seus quadros pessoas de diferentes gêneros, idades e provenientes de regiões geográficas distintas, em 87% dos casos tomam melhores decisões que àquelas que trabalham com quadros de pessoal mais homogêneo.

Aprofundando minhas análises, chego as ferramentas de gestão. A esmagadora maioria das empresas conhece e reconhece boa parte delas, mas poucas efetivamente fazem uso com sabedoria. Controlam o que não é relevante, se preocupam com cenários que provavelmente não se estabelecerão, se prendem a teorias que só burocratizam (ou “burrocratizam”) os processos, e o pior, se escondem atrás de tudo isso gerando uma falsa imagem de controle e boa gestão. É prioritário estabelecer o que de fato precisa ser controlado, e um bom parâmetro está vinculado a seguinte pergunta: o uso dessa ferramenta/critério me possibilita tomar decisões relevantes para o negócio? Se a resposta for não ou talvez, busque outra alternativa, que deve incluir a possibilidade de abandonar esse controle. Na maioria das vezes, como já sabemos, “menos é mais”.

Minha quarta orientação está diretamente vinculada ao relacionamento com o cliente. Pasme, mas ainda é comum encontrarmos empresas que não consideram as reclamações de seus próprios clientes e não entendem o porquê de estarem perdendo mercado... É preciso entender que o cliente foi agraciado com o poder supremo. Ele tem “dores” e pode buscar seus “remédios” em qualquer parte do mundo com apenas um clique. Em geral ele não quer saber se você ou sua empresa estão com problemas, não vai se compadecer com suas dificuldades, ele quer e vai buscar resolver suas próprias necessidades, por isso, blinde o seu cliente de qualquer dificuldade que esteja passando. Satisfaça-o ou irá perde-lo!

Um caminho muito inteligente para se manter próximo ao seu cliente é oferecer serviços. Reflita sobre como transformar o produto que você vende em algo complementar ao serviço que você presta. Tem indústrias globais se reposicionando no mercado como prestadoras de serviço e fazendo isso com bastante sucesso.

Por fim, mas não menos importante, cuide e valorize as pessoas. São sempre elas que fazem a diferença. Mas faça isso de verdade, começando por refletir como os erros vêm sendo tratados dentro de sua organização. Eventualmente punições se fazem necessárias, mas se forem a regra da sua empresa, seguramente você não tem um ambiente colaborativo e muito menos inovador.

Acho espetacular poder falar da importância do amor dentro das empresas sem receio de ser mal interpretada. Em um mundo com tantas máquinas e tecnologias substituindo atividades historicamente realizadas por pessoas, percebemos que o diferencial competitivo do ser humano está na nossa capacidade de desenvolver o pensamento crítico, a empatia, e também de fazer as coisas com amor. Então, estimule o surgimento de seres humanos mais humanos, mais generosos, menos competitivos, e na sua empresa surgirá um ambiente muito favorável à construção de uma empresa cada vez mais resiliente.

É claro que não há uma receita pronta ou comum a todas as organizações e o que funciona para umas não funciona para outras, mas por meio de uma observação atenta das características do mercado em que a sua empresa atua, dos profissionais com os quais você interage, dentro ou fora da empresa, e das bases tecnológicas disponíveis e possíveis, podemos traçar o caminho mais rápido para ampliar o grau de resiliência da sua empresa.

A experiência me permite garantir que sua empresa já passou e passará por diversas crises, umas maiores, outras mais simples, mas saiba que todas com potencial de encerrar suas atividades. Por isso, não deixe para buscar ajuda ou refletir sobre suas dificuldades quando já estiver vivenciando-as. Tudo fica mais fácil quando conseguimos antever a crise e nos preparamos para superá-las. 


Tatiana Livramento

Especialista em Resiliência Organizacional, consultora da Conexão T&D.

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